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Antes de continuar as postagens neste modesto blog e antes de tecer as considerações menos favoráveis que a seguir vou expor, volto a afirmar que considero este País como uma pérola colocada no equador! Pelas suas belezas naturais (florestas, rios, flores, cascatas, frutos, praias,...), pelo clima de segurança que se respira, pela variedade das suas paisagens, pelo seu clima e pela sua população (de uma simpatia extraordinária, de bom trato, prestável, afável, bem disposta,...) o País é algo muito próximo do que se pode considerar o paraíso!
Apesar do "muito de bom" que encontrei, não quero prosseguir sem antes referir também o que me desgostou/chocou em S. Tomé e Príncipe. Não se pense que neste País é tudo como as fotos mostram. Muito para além do que nelas se vê, há muitas, muitas mais "coisas não fotografáveis" que são tanto ou mais importantes do que aquilo que se vê.
S. Tomé e Príncipe é realmente um pequeno País, mas quando a sua dimensão real é avaliada pelas suas infraestruturas (dum modo geral inexistentes ou precárias), o País ainda se torna menor! ... e não esqueçamos que S. Tomé e Príncipe tem sido um dos países mais ajudados a nível internacional (há uns meses atrás li num jornal, já não sei qual, que nos últimos anos, a ajuda internacional, per capita, a S. Tomé e Príncipe era uma das maiores, ou mesmo a maior do mundo!).
Choca, desde logo, a enorme diferença entre os que tudo têm e os que pouco ou nada têm, a que acresce as ostentação daqueles! ...a enorme quantidade de viaturas 4x4, modelos recentes!...
Choca o estado das estradas. Como é possível que um País que tem menos de 500 km de estradas asfaltadas as mesmas estejam em tão mau estado?
Choca o abate desordenado das árvores, muitas delas centenárias, que são depois utilizadas para queimar, para construir casas e barcos,... ...e não se vê ninguém a cuidar da sua substituição...
Choca o aviso que mostro abaixo. Mas mais chocam os "presentes" humanos que se encontram por diversos locais, alguns não muito escondidos!...
No muro que serve de suporte/alicerce ao Forte de S. Sebastião são dispostos diariamente muitos daqueles "presentes" que a maré se encarrega de limpar! ...há a atenuante(?) de que quase não existe saneamento!


Choca o "habito" de em qualquer lugar (praia, campo, estrada...) se partir a garrafa de cerveja/refrigerante que se acabou de beber!...
Choca o modo como é exposto e vendido o peixe e a carne nos mercados!


Choca a falta de esgotos ou o modo como eles correm a céu aberto.


Choca haver cortes de energia eléctrica praticamente todos os dias.
Choca ver os barcos e barcaças a apodrecer na Baía Ana Chaves.

Choca o modo como estão votados ao abandono o cacau, o café, o coco...
Choca ver o estado de abandono (por vezes já ruínas) em que se encontram os edifícios das roças (sabiam que por obrigação da legislação portuguesa, anteriormente em vigor, cada roça tinha de ter o seu próprio hospital? Do cumprimento desta obrigação resultou na altura ser S. Tomé e Príncipe o território africano com maior número de hospitais por habitante!)
De uma das crónicas contidas em "Sul", livro de Miguel Sousa Tavares, cuja leitura recomendo - "São Tomé e Príncipe: As Ilhas maltratadas" - retirei pequenos excertos (o autor que me perdoe!):
"(...) Da escravatura colonial à independência (...)" e já passaram mais de 30 anos "(...) de ilusão, repete-se o contraste entre a natureza exuberante e os homens que a arruínam. Como se as ilhas fossem demasiado perfeitas para a condição humana."
"(...) Mas a verdade é que, não obstante a miséria que nos ofende e a porcaria que, por vezes, nos repele (...) há nestas paragens tropicais um chamamento e uma força que despertam em nós exactamente o oposto da tristeza - uma alegria de crianças deslumbradas, como se só aqui pudéssemos reencontrar qualquer coisa perdida no fundo da nossa memória e das nossas raízes.
(...) quanto ao solo, basta plantar que tudo cresce: ananases, papaias, mamões, mangas ou matabala, que faz as vezes da batata. A fertilidade da terra (...) é tamanha que, num só dia, registou-se o crescimento de 12 centímetros de uma planta!"
(...) Só pode vir daí, aliás, dessa generosidade da natureza que é quase uma provocação, a tradicional preguiça dos são-tomenses avessos ao trabalho e ao engenho."
Ainda naquela crónica, Miguel Sousa Tavares transcreve o seguinte texto dum relatório do Banco Mundial, referente a S. Tomé e Príncipe:
"Infelizmente, a ajuda externa ampliou grandemente as oportunidades de corrupção. Centenas de milhões de dolares foram desviados para contas privadas fora de África. O custo não se traduz, apenas, no desperdício de recursos, mas também, e mais gravemente, na profunda desmoralização da sociedade em geral."
É certo que os textos acima datam de 1990, mas terão ocorrido alterações significativas ao longo dos últimos 17 anos?
Num depoimento recolhido pelo jornal Público (suplemento Fugas de 7 de Abril de 2007), Catarina Furtado pergunta: "Como é possível um País tão pequeno, e à partida tão fácil de ordenar quanto um jogo de monopólio, estar tão longe da paridade?"
Alguém sabe responder?
O meu amigo MP colocou um comentário à "Introdução" deste blog que, com a devida vénia e com o meu muito obrigado, passo a transcrever parcialmente:
"Sei que não é fácil e nem sempre simpático falar da sociedade santomense (...)" Como sinto esse problema! Mas entendo que é necessário, de uma forma construtiva falar dos problemas pois só assim se "compreenderá o papel dos "homens" desta terra e o perigo para o equilíbrio deste paraíso, qual dádiva dos deuses nem sempre devidamente apreciada e defendida dos e nos ventos da história."
"S. Tomé e Príncipe precisa (e muito) de ser visitada por gentes que vejam este País como uma terra de oportunidades, onde combater a pobreza dos seus seja entendido como meio de preservar a riqueza natural do arquipélago."
A minha visão "e de outros visitantes pode e deve constituir um contributo para que o futuro do País seja cada vez mais colorido e não se deixe envolver na desumanização da sociedade que as lamas de crude têm fomentado noutras paragens."
NOTA: Não deixem de ler o Comentário que em 22 de Abril de 2009 DJesus deixou no post (clicar abaixo)
Em jeito de conclusão
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