quarta-feira, 16 de maio de 2007

À porta do Paraíso... com um pé no Purgatório!

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Antes de continuar as postagens neste modesto blog e antes de tecer as considerações menos favoráveis que a seguir vou expor, volto a afirmar que considero este País como uma pérola colocada no equador! Pelas suas belezas naturais (florestas, rios, flores, cascatas, frutos, praias,...), pelo clima de segurança que se respira, pela variedade das suas paisagens, pelo seu clima e pela sua população (de uma simpatia extraordinária, de bom trato, prestável, afável, bem disposta,...) o País é algo muito próximo do que se pode considerar o paraíso!
Apesar do "muito de bom" que encontrei, não quero prosseguir sem antes referir também o que me desgostou/chocou em S. Tomé e Príncipe. Não se pense que neste País é tudo como as fotos mostram. Muito para além do que nelas se vê, há muitas, muitas mais "coisas não fotografáveis" que são tanto ou mais importantes do que aquilo que se vê.
S. Tomé e Príncipe é realmente um pequeno País, mas quando a sua dimensão real é avaliada pelas suas infraestruturas (dum modo geral inexistentes ou precárias), o País ainda se torna menor! ... e não esqueçamos que S. Tomé e Príncipe tem sido um dos países mais ajudados a nível internacional (há uns meses atrás li num jornal, já não sei qual, que nos últimos anos, a ajuda internacional, per capita, a S. Tomé e Príncipe era uma das maiores, ou mesmo a maior do mundo!).
Choca, desde logo, a enorme diferença entre os que tudo têm e os que pouco ou nada têm, a que acresce as ostentação daqueles! ...a enorme quantidade de viaturas 4x4, modelos recentes!...
Choca o estado das estradas. Como é possível que um País que tem menos de 500 km de estradas asfaltadas as mesmas estejam em tão mau estado?
Choca o abate desordenado das árvores, muitas delas centenárias, que são depois utilizadas para queimar, para construir casas e barcos,... ...e não se vê ninguém a cuidar da sua substituição...
Choca o elevado número de jovens mães e jovens grávidas (mesmo muito jovens, quase crianças ainda) que encontramos por toda a parte!
Choca o aviso que mostro abaixo. Mas mais chocam os "presentes" humanos que se encontram por diversos locais, alguns não muito escondidos!...
No muro que serve de suporte/alicerce ao Forte de S. Sebastião são dispostos diariamente muitos daqueles "presentes" que a maré se encarrega de limpar! ...há a atenuante(?) de que quase não existe saneamento!
Choca o "habito" de em qualquer lugar (praia, campo, estrada...) se partir a garrafa de cerveja/refrigerante que se acabou de beber!... Choca o modo como é exposto e vendido o peixe e a carne nos mercados!
Choca a falta de esgotos ou o modo como eles correm a céu aberto.
Choca haver cortes de energia eléctrica praticamente todos os dias.
Choca ver os barcos e barcaças a apodrecer na Baía Ana Chaves.
Choca o modo como estão votados ao abandono o cacau, o café, o coco...
Choca ver o estado de abandono (por vezes já ruínas) em que se encontram os edifícios das roças (sabiam que por obrigação da legislação portuguesa, anteriormente em vigor, cada roça tinha de ter o seu próprio hospital? Do cumprimento desta obrigação resultou na altura ser S. Tomé e Príncipe o território africano com maior número de hospitais por habitante!)
De uma das crónicas contidas em "Sul", livro de Miguel Sousa Tavares, cuja leitura recomendo - "São Tomé e Príncipe: As Ilhas maltratadas" - retirei pequenos excertos (o autor que me perdoe!):
"(...) Da escravatura colonial à independência (...)" e já passaram mais de 30 anos "(...) de ilusão, repete-se o contraste entre a natureza exuberante e os homens que a arruínam. Como se as ilhas fossem demasiado perfeitas para a condição humana." "(...) Mas a verdade é que, não obstante a miséria que nos ofende e a porcaria que, por vezes, nos repele (...) há nestas paragens tropicais um chamamento e uma força que despertam em nós exactamente o oposto da tristeza - uma alegria de crianças deslumbradas, como se só aqui pudéssemos reencontrar qualquer coisa perdida no fundo da nossa memória e das nossas raízes. (...) quanto ao solo, basta plantar que tudo cresce: ananases, papaias, mamões, mangas ou matabala, que faz as vezes da batata. A fertilidade da terra (...) é tamanha que, num só dia, registou-se o crescimento de 12 centímetros de uma planta!" (...) Só pode vir daí, aliás, dessa generosidade da natureza que é quase uma provocação, a tradicional preguiça dos são-tomenses avessos ao trabalho e ao engenho." Ainda naquela crónica, Miguel Sousa Tavares transcreve o seguinte texto dum relatório do Banco Mundial, referente a S. Tomé e Príncipe: "Infelizmente, a ajuda externa ampliou grandemente as oportunidades de corrupção. Centenas de milhões de dolares foram desviados para contas privadas fora de África. O custo não se traduz, apenas, no desperdício de recursos, mas também, e mais gravemente, na profunda desmoralização da sociedade em geral." É certo que os textos acima datam de 1990, mas terão ocorrido alterações significativas ao longo dos últimos 17 anos?
Num depoimento recolhido pelo jornal Público (suplemento Fugas de 7 de Abril de 2007), Catarina Furtado pergunta: "Como é possível um País tão pequeno, e à partida tão fácil de ordenar quanto um jogo de monopólio, estar tão longe da paridade?"
Alguém sabe responder?
O meu amigo MP colocou um comentário à "Introdução" deste blog que, com a devida vénia e com o meu muito obrigado, passo a transcrever parcialmente:
"Sei que não é fácil e nem sempre simpático falar da sociedade santomense (...)" Como sinto esse problema! Mas entendo que é necessário, de uma forma construtiva falar dos problemas pois só assim se "compreenderá o papel dos "homens" desta terra e o perigo para o equilíbrio deste paraíso, qual dádiva dos deuses nem sempre devidamente apreciada e defendida dos e nos ventos da história."
"S. Tomé e Príncipe precisa (e muito) de ser visitada por gentes que vejam este País como uma terra de oportunidades, onde combater a pobreza dos seus seja entendido como meio de preservar a riqueza natural do arquipélago."
A minha visão "e de outros visitantes pode e deve constituir um contributo para que o futuro do País seja cada vez mais colorido e não se deixe envolver na desumanização da sociedade que as lamas de crude têm fomentado noutras paragens."

NOTA: Não deixem de ler o Comentário que em 22 de Abril de 2009 DJesus deixou no post (clicar abaixo)
Em jeito de conclusão

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14 comentários:

Anónimo disse...

Descobri este blog através de uma Comunidade a que pertenço. Gostei muito!
Sou moçambicana e neta de são-tomenses (quer o pai do meu pai, quer o pai da minha mãe nasceram em S. Tomé) e desde miúda que eles me falavam deste paraíso e me contavam histórias lá passadas.
Mesmo com todas as críticas que aponta, que entendo como construtivas e motivadoras de mudança, no sentido da correcção de tais situações, acho que este é o "sítio" mais bonito que conheço sobre São Tomé e Príncipe na Net!
Parabéns! Fico a aguardar a continuação.

Marrussi (Alice)

Anónimo disse...

VIERAM-ME LÁGRIMAS AOS OLHOS AO PERCORRER AS IMAGENS DE SÃO TOMÉ.
SITÍO MAIS BONITO NÃO HÁ MAS TUDO SE DEVE AGORA À MÃE NATUREZA.
ERA PRECISO DEIXAR CHEGAR SÃO TOMÉ
A ESTE ESTADO DE ABANDONO E RUINA ?
FUI ÁS MINHAS FOTOS-ESTÁ QUASE UMA IRRECONHECÍVEL ESTRUMEIRA !
QUE PREÇO TÃO ALTO SÃO TOMÉ ESTÁ A PAGAR! O MEU CORAÇÃO AINDA ESTÁ LÁ.
BOMJAU SUNGUÊ !

JC disse...

Já estive em São Tomé em 2oo5, 2006, 2007 e agora em Março de 2009. Gostei tanto daquela ilha que estou a considerar montar um negoçio lá e levar a minha familia. Todos nós adoramos aquela gente, aquele clima, aquela terra...Thaué!

Anónimo disse...

olá...
Sou santomense mas estudo no brasil e descobri este blog no google pesquisando coisas sobre são tomé, e simplesmente fiquei muito emocionada em saber que alguem que ñ é natural d são tomé e Princípe tem esse carinho tão especial por este paíse e demostra uma preocupação que boa parte dos santomenses ñ demostram.
Parabens pelo seu trabalho, Amei de coração tudo o que vi e li...
Beijos Grandes

Anónimo disse...

Parabens. Blogue simpático e bastante completo que permite recordar e matar saudades de 6 meses de ausência
Como não há bela sem senão...
Só se fica chocado porque teimamos em olhar para África com olhos de europeus e a fazer comparações impossíveis.
África não tem de nos chocar. É assim. Esperamos e desejamos (e ajudamos?) a melhorar mas não temos de sentir "choques". Já influenciámos demais, a África, com as nossas manias, vícios e defeitos de gente "civilizada".

Unknown disse...

Olá!!

Estou neste momento em S. Tomé e realmente é chocante a "miséria" que se vê por cá! Posso afirmar que está bem pior do que as suas fotos mostram!!! Que pena!!!!!
Será que não existe vontade politica para salvar esta boa gente da miséria???

metRo_ disse...

Eu cheguei à dois dias de S. Tomé e Príncipe e se nos últimos anos eu, os meus irmãos e os meus pais temos ido para as caraíbas, desta vez optamos por S. Tomé e Príncipe.
No primeiro dia durante a viagem e o ilhéu das Rolas deu, tanto para ver a beleza natural daquele pais como para perceber a "pobreza" em que se encontra o pais.
Quando chegamos ao hotel no ilhéu das Rolas o hotel não era propriamente o que estávamos habituados nas caraíbas, é um hotel de 4* normal, até porque eu tenho 21 anos e os meus irmãos +- a mesma idade e gostamos de alguma diversão e actividades que se encontra sempre nos hotéis das caraíbas, para piorar o tempo também não estava nada bom e estávamos todos a ficar um pouco apreensivos pois íamos lá passar 9 noites, no entanto com os dias o tempo foi melhorando, fomos conhecendo as pessoas, o ilhéu e tudo melhorou. Realmente as pessoas são do melhor, sempre muito simpáticas e divertidas mesmo com as más situações em que as vezes vivem.
Depois do ilhéu das Rolas fui duas noites para a cidade de S. Tomé durante a viagem deu para visitar a Roça de S. João assim como algumas praias e outros pontos interessantes. No dia seguinte estivemos a conhecer a zona norte da ilha e sempre com paisagens espectaculares e a grandiosidade da Roça de Agostinho Neto não dá mesmo para perceber como tudo conseguiu chegar ao ponto em que está até que começamos a ouvir as histórias sobre as opções do governos entre outras coisas.

No final da viagem já não queríamos voltar quase que se pode dizer "primeiro estranha-se e depois entranha-se", não sei, mas tem algo muito especial.

Um dos problemas do pais na minha opinião é a falta de vontade de trabalhar por uma grande parte de pessoas e isto é muitas vezes afirmado pelos próprios. É que é mesmo tudo muito "leve, leve!".

Aconselho realmente a viagem!

Anónimo disse...

"São Tomé um paraíso criado pelos Deuses e amaldiçoado pelos Homens"
Vivi mais de dois anos em São Tomé e garanto-vos que voltaria para lá novamente se...
O dinheiro que é dado pela comunidade internacional em prol do desenvolvimento e bem estár chegasse ao povo, fossem criadas as infra-estruturas que permitissem o desenvolvimento do país.
...se as pessoas não vivessem no eterno "leve leve", pensassem em fazer algum trabalho, quanto mais não fosse para a sua subsistência.
...se as pessoas não roubassem tanto, não mentissem tanto, fossem mais responsáveis.
...se os dirigentes não fossem tão corruptos, tão ladrões, que têm fortunas astronómicas feitas à custa de povos como o Português, sempre pronto a cooperar.
...se os responsáveis que lá estão em representação de outros países e organizações internacionais não fossem coniventes com tudo o que lá se passa.
O povo é o reflexo dos seus dirigentes, quando é chegada a época das eleições é o "banho", são comprados os votos, dá-se comida e bebida ao povo e muitas festas, muita musica, e como o povo Santomense não pensa no amanhã, pois não sabem se vão cá estár (reflexo da alta taxa de mortalidade de há anos causada pelo paludismo)deixam-se comprar por qualquer valor e no final quem ganha é quem faz a festa maior.
Enquanto os senhores do dinheiro investem nos seus projectos de riqueza fácil, onde investem durante as campanhas eleitorais muitos milhões de dobras do seu próprio bolso, para mais tarde quando chegarem aos cargos que tanto ambicionaram, efectuarem a retoma do que gastaram e arrecadar de forma ilícita muito mais do que aquilo que gastaram.
Estes são apenas alguns se's de muitos que ficam por contar.
Graças a Deus nem todas as pessoas são assim em São Tomé e tenho lá muitos amigos que adoro, pessoas que esperam e outras desesperam por um futuro melhor, por que merecem melhor.

Anónimo disse...

olá!
Foi com enorme prazer que desfrutei de todas as imagens deste blog.
E porquê?
Porque não é possivel esquecer os quatro anos da minha infancia vividos nesse paraiso(1961 a 63 e 66 a 69) apenas com 6 anos e mais tarde com 12.
Bom mas fico tiste porque a simplicidade daquela gente não merecia que passados tantos anos e depois de tantas ajudas internacionais o seu quotidiano continue pior do que nos anos em que lá estive,e já são muitos. Mas gostaria de dizer aos saotomenses que o futuro esta na mão de todos e não de alguns oportunistas,portanto arregassem as mangas e lutem pelo vosso paraiso que a todos encanta. Que saudades das plantações de café,do cacau do coco e daquele mar onde muitas vezes adormeci apenas com a cabeça fora de água,é verdade frio? qual quê!
Só mais uma nota.Eu sei que os trabalhos agriculas foram sempre dos contratados de Angola,Moçambique e Cabo-Verde mas agora os tempos são outros e são voces saotomenses que devem lutar contra o abandono da riqueza desse vosso paraiso.

Unknown disse...

Parabéns pela viagem que nos dá a ver um pouco de S. Tomé,muito bom mesmo este trabalho.
Existe pouca informação acerca dos anos sessenta...
QUEM me ajuda a conhecer um pouco...
- COMO SE TRANSPORTAVAM AS PESSOAS PARA A ROÇA NOS ANOS SESSENTA?
- SE JÁ HAVIA ALGUM TAXI NA CIDADE?
- COMO ERA CONSTITUÍDA A ROÇA E SEUS MANDANTES: as várias camadas de OPERÁRIOS e SUBDIVISÕES?
Agradecia quaisquer informação que seja útil para aqui ou o meu email: fernando.maia930@gmail.com

Luxa disse...

Sim, miséria a olho nú sem dúvida
notando bem por ser um país pequeno e nós....faltará pouco para tal..."a olho nú"
entremos por esse interior fora e logo teremos muito a comparar - sendo este um grande!!!
Infelizmente o pequeno é esquecido em qualquer parte do mundo
INFELIZMENTE!!!!!

Anónimo disse...

Políticos de S. Tomé, tirem as mãos dos bolsos , arregacem as mangas, esqueçam a frase leve leve, deixem a ganancia de engordar as contas nos banco com o dinheiro do povo,da vida fácil e juntem-se as mãos ao lado do povo Santomensse, recuperem as roças agrícolas,os edifícios,as estradas, põem o povo a andar calçado ; porque este País é rentável fácil de governar e mais, é muito produtivo.Vejam Cabo Verde antes da independência e pós a independência.Um exemplo a seguir.

Anónimo disse...

As imagens atuais falam por si! Demostram quanto o país chegou:miséra! Um país com grandes recursos ... Está na hora de mudarem a mentalidade.

Anónimo disse...

Simplesmente adorei tudo neste blog, desde as imagens que falam por si da beleza indescritível que é São Tomé, mas também o que ainda me choca bastante: não existir ninguém que queira fazer algo por esta terra, nem mesmo os próprios são-tomenses! Estive de férias em São Tomé há um mês, e também já fui a Moçambique em 2004 e não consigo entender que mentalidades são estas que deixam as coisas chegar a tal ponto. Falei desta situação com alguns naturais de São Tomé e parece realmente que quem governa este país fica com o dinheiro para si e deixa as estradas com mais buracos que asfalto, o pestana equador que poderia ser um autêntico íman de turistas e que se encontra num estado degradante, os cuidados de saúde que se encontram muito aquém do devido pois as roças foram ocupadas e ninguém pensou que uns hospitais podiam fazer falta a uma população com seropositivos sem cuidados médicos, paludismo, elevado número de filhos,...
Vi também há algum tempo uma entrevista com uma conhecida jornalista de São Tomé que tinha sido desviada pelo governo da televisão pelo seu programa que falava de política e entrevistava várias personalidades que eventualmente poderiam mudar o rumo ao país.
Sem olhar a este entristecedor lado, São Tomé e Príncipe é sem dúvida o Paraíso. Não tenho palavras para descrever a comida (recomendo o restaurante da Dona Hortênsia), as hospitalidade das pessoas, a música e as danças africanas, as praias, os rapazes que nos esperam no aeroporto só para receberem nem que seja uns cêntimos, as crianças a pedir doce, a paisagem verde sem fim, as rosas-porcelana, o maior susto da minha vida quando apanhei uma tempestade tropical a meio da noite, os 15 rapazes que levaram o meu grupo de 8 pessoas ao marco do Equador, tudo,tudo,tudo.
Foi muito bom ter conhecido este país tão diferente do nosso e estou muito grata por haver alguém com uma paixão tão grande como a minha e que tenha divulgado pela net que África tem uma beleza especial.
Eu e o resto do meu grupo fizemos uma promessa de voltar daqui a uns anos para certificarmo-nos de que tenha muita coisa mudado.
Muito obrigada pela divulgação deste sítio especial,
Inês Mesquita.